No coração da Baía de Todos-os-Santos, um movimento silencioso e transformador vem acontecendo entre raízes entrelaçadas, caranguejos e águas salobras. Em Vera Cruz, na Ilha de Itaparica, crianças de comunidades como Praia de Conceição e Barra Grande estão aprendendo, na prática, a cuidar dos manguezais — ecossistemas considerados berçários naturais da vida marinha e fundamentais no combate à crise climática.
A ação é parte de um projeto contínuo de educação ambiental, iniciado em 2023, que ganha novo fôlego neste mês de julho, em sintonia com o Dia Mundial de Proteção aos Manguezais, celebrado no dia 26. A iniciativa tem apoio do Village Itaparica — empreendimento turístico com forte atuação social na região — e é realizada em parceria com o Projeto Recife das Pinaúnas.
Com oficinas lúdicas, trilhas ecológicas, plantio de mudas nativas e limpeza de áreas degradadas, o projeto promove uma aproximação afetiva entre crianças e o território onde vivem. Desde que começou, mais de 100 estudantes da rede pública municipal participaram das atividades. Em 2025, a ação segue em expansão: 37 alunos de duas escolas — Padre Ignácio, em Conceição, e Guilherme Franco Guimarães, em Barra Grande — integram a nova etapa.
Para Adriana Muniz, gerente de ASG (Ambiental, Social e Governança) do Village Itaparica, o trabalho de base com a comunidade escolar é um investimento no futuro:
“Essa vivência transforma a forma como as crianças enxergam o lugar onde vivem. O mangue deixa de ser apenas parte da paisagem e passa a ser parte da identidade delas. Isso cria laços duradouros de pertencimento, cuidado e responsabilidade”, afirma.
Além de seu valor simbólico e social, o manguezal é um ecossistema-chave para o equilíbrio ambiental global. Com alta capacidade de sequestro de carbono, ele atua como barreira natural contra a erosão e as tempestades costeiras, filtra poluentes, protege os recifes de corais e sustenta cadeias alimentares marinhas. Sua conservação está diretamente ligada a três Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU: o ODS 14 (Vida na Água), o ODS 13 (Ação Climática) e o ODS 15 (Vida Terrestre).
Mas preservar exige proximidade. E é por isso que o protagonismo das escolas é tão importante. Para Marisangela Silva Bitencourt Castro, coordenadora pedagógica da Escola Padre Ignácio, os impactos da iniciativa são visíveis no comportamento dos alunos:
“Eles desenvolveram uma consciência crítica, aprenderam a agir coletivamente e passaram a se reconhecer como parte da comunidade que cuida do manguezal. Foi um aprendizado sensível e transformador”, relata.
A escolha por envolver as crianças — futuros defensores do planeta — é estratégica e simbólica. Como destaca Adriana Muniz, o compromisso do Village Itaparica vai além da responsabilidade ambiental:
“Nosso papel é cultivar um legado. Não basta preservar o mangue; é preciso garantir que ele continue vivo nas gerações futuras. E isso só é possível com educação, vínculo e atuação comunitária. Para o Village, esse projeto representa nosso compromisso com a transformação social e ambiental do território onde estamos inseridos.”
Neste 26 de julho, Dia Mundial de Proteção aos Manguezais, a ação reforça uma mensagem essencial: preservar o meio ambiente não é uma tarefa isolada, mas uma construção coletiva — que começa, muitas vezes, com os pés descalços de uma criança explorando o mangue pela primeira vez.
Fotos: Fotos Afonso Santana/Village Itaparica
Guia BTS – Baía de Todos-os-Santos
Texto: Redação Guia BTS