O navegador Aleixo Belov, de 82 anos, acaba de escrever mais um capítulo histórico em sua trajetória pelos mares do mundo. Em plena travessia da temida Passagem Nordeste — rota gelada que liga o Atlântico ao Pacífico pelo norte da Sibéria —, o baiano chegou com sucesso à remota cidade de Dikson, no Ártico russo, onde foi calorosamente homenageado pelas autoridades locais.
A informação foi confirmada pela equipe de apoio no Brasil na última segunda-feira (28), após raro contato com Belov, que enfrenta grandes dificuldades de comunicação devido à internet extremamente limitada na região. Mesmo assim, o navegador demonstrou entusiasmo com o feito e gratidão pela recepção inesperada: além de serem recebidos no porto pela administração da cidade, ele e sua tripulação ganharam uma medalha simbólica — comparável à tradicional “chave da cidade” — e um prato típico local, preparado especialmente para a ocasião.
A expedição atual tem um grau de dificuldade incomparável. A Passagem Nordeste é uma rota histórica e quase intransponível, tradicionalmente navegada apenas por navios quebra-gelo. A janela de travessia é estreita: o mar congela a maior parte do ano, e apenas três semanas são consideradas minimamente seguras para embarcações menores como o veleiro Fraternidade.
A bordo, Belov conta com uma tripulação mista de brasileiros e russos, entre eles o capitão Sergei Shcherbakov, peça-chave para lidar com a complexa logística local. A costa norte da Rússia é considerada uma área de interesse militar, o que torna a expedição ainda mais delicada do ponto de vista diplomático e operacional.
Para além do desafio físico e técnico, a jornada carrega um simbolismo especial. Nascido na Ucrânia e naturalizado brasileiro, Belov já realizou cinco voltas ao mundo e, em 2022, completou a travessia da Passagem Noroeste — que cruza o Ártico pelo Canadá. Ao tentar agora a rota oposta, pelo lado russo, o navegador se aproxima de um feito inédito para a navegação brasileira.
“Já naveguei por todos os mares, só falta a Sibéria”, disse Belov antes de partir. E agora, mesmo aos 82 anos, prova que o espírito explorador, a paixão pelo mar e a resistência física podem atravessar qualquer fronteira — até mesmo as do gelo eterno do Ártico.
Quando retornar, será possível conhecer mais dessa e de outras aventuras no Museu do Mar Aleixo Belov, localizado no bairro do Santo Antônio Além do Carmo, em Salvador. Um espaço que, assim como seu criador, segue inspirando novas gerações a desbravar os oceanos — e os próprios limites.
Fotos: Ádamo Melo