Lugar de historiador não é só em salas de aula ou museus. O mar e toda a riqueza que abriga são excelentes fontes de trabalho para os profissionais formados em História. Todo o conhecimento técnico obtido na graduação dão base para abordagem de documentos diversos, de cartas náuticas aos manuscritos, bem como ajudam a documentar as transformações pelas quais passam a navegação.
Quem levanta essa possibilidade de atuação é o historiador e paleógrafo Sávio Queiroz Lima, que ministrou aulas de Introdução à Paleografia e à Diplomática de Documentos Náuticos, um dos cursos da Cultura Náutica oferecidos pela Fundação Aleixo Belov.
“No trato náutico, quer seja ele administrativo, prático ou exploratório, os conhecimentos das ciências sociais, e da História especialmente, enriquece a compreensão da realidade humana. Uma pessoa historiadora consegue arregimentar aos seus conhecimentos os elementos do saber náutico para qualificar seus trabalhos no meio acadêmico, mas também oferecer uma bagagem de transformações e permanências que atingem cotidianamente a atividade náutica”, detalha o especialista.
Essa relação entre duas áreas que à primeira vista parecem tão distintas é ilustrada com facilidade pelo que é objeto de estudo dos historiadores. Por exemplo, as fontes históricas são os alicerces mais importantes para esse campo, e se estivermos diante de uma realidade social, histórica e geográfica que tem nas atividades náuticas sua dinâmica mais evidente, conhecer os processos históricos se torna indispensável para entender as pessoas e suas demandas.
“Entender o comércio marítimo, a navegação de cabotagem ou a predação baleeira do passado só faz sentido nas trocas de conhecimentos entre os campos. O mesmo vale para a leitura de outras fontes, como as cartas náuticas, que trazem, passo a passo, as transformações do conhecimento empírico sobre o mar, sobre o manuseio de embarcações e de todo trajeto e translado”, acrescenta Sávio.
O que estudar para atuar na Economia do Mar
A História está diretamente ligada à memória e ao passado de nossa sociedade, e, em se tratando de expansão territorial e formação de novos povos, a cultura náutica está no cerne dessa formação. Afinal, o mar foi o meio que primeiro levou as pessoas a lugares mais longínquos, modificando a história da Europa e constituindo as Américas. No Brasil, em particular, as populações indígenas já habitavam e navegavam há séculos.
Mas do ponto de vista técnico, para conciliar os campos náutico e histórico, Sávio Lima afirma que os estudos de paleografia, diplomática e iconologia são porta de entrada para profissionais que querem atuar na Economia do Mar.
“A própria história da cultura náutica fornece boas bases para se produzir pesquisas ou mesmo ter diálogos no campo, quer seja numa atividade cultural envolvendo veleiros, uma regata, ou mesmo em explorações turísticas de sítios arqueológicos, naufrágios e/ou comunidades tradicionais”, acrescenta.
Cursos de Cultura Náutica
A Fundação Aleixo Belov ofereceu uma série de cursos de Cultura Náutica, voltados à qualificação prática e teórica de pessoas interessadas em navegação. O programa incluiu, além do curso de Introdução à Paleografia e à Diplomática de Documentos Náuticos, formações como: arrais amador; capitão amador; auxiliar de operações em marinas/ instrutor de atividades náuticas, esportivas e recreativas; marinharia e costura em cabos.
“Nosso propósito com os cursos de Cultura Náutica sempre foi abrir portas para aqueles que sonham com uma vida ligada ao mar e às suas atividades. Estamos satisfeitos em saber que promovemos não só qualificação, mas oportunidades concretas de inserção na Economia do Mar”, avalia a museóloga Etiennette Bosetto, coordenadora do projeto.
Os cursos de Cultura Náutica da Fundação Aleixo Belov foram financiados pela Lei Rouanet, com patrocínio da Emgepron, e foram oferecidos de maneira inteiramente gratuita.
Fotos: divulgação Fundação Aleixo Belov