A Baía de Todos-os-Santos foi, mais uma vez, o centro de um importante movimento de articulação e escuta ativa. A 7ª edição da série Diálogos Ecossistêmicos, promovida pela Associação de Mulheres do Mar (AMMAR), aconteceu na sede da Secretaria Municipal de Sustentabilidade, Inovação e Resiliência (SECIS) e reuniu diversos representantes da sociedade civil, setor público, universidades, coletivos e empresas com um objetivo comum: construir soluções integradas para a preservação dos ecossistemas costeiros e para o fortalecimento de uma governança participativa e sustentável.
O encontro faz parte da metodologia de Educação Ecossistêmica TransforMAR e, nesta edição, teve como foco o Parque Marinho da Barra, que serviu como estudo de caso para a construção coletiva de estratégias de monitoramento, ordenamento e engajamento comunitário. As propostas elaboradas durante o evento também vão orientar os passos para a futura implantação do Parque Marinho da Cidade Baixa.
Mar, território de saberes
Mediado pelas coordenadoras Jacqueline Moreno e Adriana Muniz, ambas cofundadoras da AMMAR, o encontro teve como eixo central o fortalecimento das redes locais e a valorização dos saberes tradicionais. “A governança precisa ouvir quem está nas comunidades, desenvolvendo soluções eficientes e sustentáveis, mas que ainda carecem de respaldo institucional”, pontuou Jacqueline. Adriana completou: “É hora de transformar esses bons exemplos em diretrizes públicas.”
A árbitra de regatas e também cofundadora da AMMAR, Marione Macário, destacou a importância de ações preventivas e de comunicação integrada: “No mar, tudo acontece muito rápido. Precisamos de sinalizações claras e presença ativa dos órgãos fiscalizadores.”
Casos inspiradores e ações concretas
Entre as experiências apresentadas, destacou-se o Movimento Nossa Praia, no Rio Vermelho, que vem promovendo a regeneração do manguezal, o reordenamento do uso do solo e o fortalecimento do pertencimento local. Outras iniciativas reconhecidas foram o Parque em Rede Pedra de Xangô, nas Cajazeiras, e as comunidades quilombolas da Ilha de Maré — referências culturais e ambientais que clamam por maior investimento e proteção.
Os projetos Baleia Jubarte, Mulheres no Timão, Fundo da Folia, Instituto Fundo Limpo e estudantes da UFBA também foram citados como protagonistas de ações que devem ser replicadas e fortalecidas.
Inteligência Ecossistêmica: do diálogo à prática
Como resultado do encontro, será entregue aos gestores públicos e representantes das instituições presentes um plano de Inteligência Ecossistêmica com propostas de execução imediata, incluindo ações de educação oceânica nas escolas municipais e atividades com frequentadores de praias.
Receberão o plano: Ivan Euler (SECIS), Carlos Brasileiro (Secretaria do Mar), tenente Verônica Grazielle e suboficial Bernardino (Capitania dos Portos), Adriana Medeiros (Wilson Sons/Tecon Salvador) e Adriana Muniz (gestora de sustentabilidade do Village Itaparica).
Mobilização pela audiência pública e carta aberta
Durante o evento, foi compartilhada a dificuldade de mobilização da Comissão de Meio Ambiente da Assembleia Legislativa da Bahia para votar a realização de uma audiência pública proposta pela AMMAR. A audiência teria como tema central os impactos ambientais na Baía de Todos-os-Santos e a implementação do Programa de Ação de Proteção Anual da BTS (PAPA-BTS).
A carta-manifesto apresentada defende o debate sob o título “Impactos Ambientais e as Políticas Públicas Necessárias: Um Chamado para Ação”, pedindo urgência na adoção de medidas concretas que garantam a proteção da vida marinha, o reconhecimento da pesca artesanal e o incentivo ao turismo sustentável na região.
Presenças que somam
O evento contou com a presença de representantes de iniciativas como Fundo da Folia, Nossa Praia, Instituto Maré Global, Projeto Baleia Jubarte, Fundação Vovó do Mangue, IF Baiano, UFBA, Instituto de Pesca Artesanal, Wilson Sons, Village Itaparica e órgãos como a Capitania dos Portos, SECIS e Secretaria do Mar.
A pluralidade de vozes e saberes reforça o papel da Baía de Todos-os-Santos como símbolo de biodiversidade e patrimônio cultural. Que os próximos capítulos dessa série de diálogos tragam não apenas reflexões, mas ações efetivas para um futuro mais azul — e justo — para todos.