Kirimure: a confraria de amigos que celebra o mar e a cultura baiana

A história do Grupo Kirimure é marcada pela união de amigos e pelo desejo de manter viva a conexão com o mar e a cultura baiana. Criado em 2017, o grupo nasceu em um encontro descontraído em Salvador, no restaurante Roca, localizado na Rua Humberto de Campos. Na ocasião, Lourenço Mueller, escritor e idealizador do grupo, reuniu amigos para um “bota-fora” em homenagem a Aleixo Belov, navegador e amigo de longa data, que partia para uma jornada rumo ao Alasca.

Mueller relembra com humor o início do grupo: “Aleixo, que não bebe nada, não aproveitou as bebidas, mas os outros amigos sim. Entre conversas, risadas e algumas doses, fomos criando algo mais do que uma simples reunião de amigos, foi ali que nasceu o embrião do que hoje chamamos de Grupo Kirimure.” 

O grupo, inicialmente formado em clima de brincadeira, logo passou a ser visto como um espaço de amizade e de troca de ideias. “A gente criou uma confraria que chamamos de Ordem de Kirimure, onde os homens são os ‘cavaleiros’ e as mulheres, as ‘sereias’. Achamos que o símbolo da sereia combinava com o espírito do grupo, porque reflete essa ligação mágica e profunda com o mar”, explica Mueller.

A admiração pelo mar e pela baianidade fazem parte da identidade do grupo. Lourenço conta que a inspiração poética para o nome Kirimure vem da antiga palavra indígena para a Baía de Todos-os-Santos. Ele acredita que essa conexão entre o grupo e o mar se traduz em uma ligação espiritual e cultural: “Caetano Veloso e Gilberto Gil são duas grandes inspirações para nós, especialmente na música ‘Beira do Mar’, que fala da beleza e da força do oceano. Esse sentimento de estar próximo ao mar, de ser inspirado por ele, está na essência do Kirimure.”

Além das referências culturais, Mueller e os membros do grupo buscaram criar um hino próprio, com letras compostas pelo próprio Lourenço e melodia de Valtinho Queiroz, um músico baiano conhecido no cenário local. No entanto, segundo o fundador, a canção não alcançou o mesmo impacto emocional da música de Caetano e Gil. “Fizemos uma composição, uma letra, mas sinto que o nosso hino não pegou da mesma forma. A música ‘Beira do Mar’ resume bem o sentimento que queríamos transmitir, algo que une poesia e um desejo profundo de conexão com o mar”, confessa ele.

Kirimure ganha projeção

Em 2019, o Grupo Kirimure organizou seu primeiro congresso na Academia de Letras da Bahia, reunindo intelectuais, autoridades e artistas baianos, em um evento que ressaltava a importância do mar para a cultura local. Nomes como o ex-senador Waldeck Ornelas e representantes de universidades e do governo marcaram presença. “Foi um momento muito significativo para nós, pois conseguimos reunir pessoas de diversas áreas para discutir temas ligados à nossa identidade cultural e à importância de preservar o mar e suas histórias”, explica Lourenço. “A cidade de Salvador se viu representada naquele congresso, e nossa missão de valorização da baianidade ficou ainda mais forte.”

O congresso foi um sucesso, atraindo mais membros para o grupo, que passou a ter 123 participantes. “Esse número parece mágico para nós, ‘um, dois, três’. Ele simboliza o crescimento e o fortalecimento do grupo,” comenta Mueller. Após o congresso, o grupo planejava expandir suas atividades, mas a chegada da pandemia de Covid-19 interrompeu esse processo.

Desafios da pandemia e a reinvenção do grupo

Durante a pandemia, as atividades do Kirimure foram paralisadas, e seus membros passaram por períodos de isolamento, o que afetou a dinâmica do grupo. “A Covid foi uma experiência dura para todos nós. Ficamos dois anos sem nos encontrar, o que causou uma perda de conexão. Muitos de nós se  voltaram para atividades pessoais, como a escrita e a pintura”, conta Lourenço. “Foi um período de muita introspecção, e acho que cada um lidou com as dificuldades de maneira única.”

Mesmo durante o isolamento, Mueller aproveitou o tempo para se dedicar à escrita, explorando temas que desejava abordar. Ele compartilha que esse período de reclusão o ajudou a refletir sobre o valor da convivência e da amizade, fatores que são fundamentais para o Grupo Kirimure. Com o fim das restrições, os membros do grupo começaram a retomar o contato, e a confraria volta agora com um novo propósito e com a promessa de realizar o segundo congresso, inicialmente planejado para 2020.

A reestruturação do grupo em 2024 marca um novo capítulo para o Kirimure, que retorna com mais força e com novos projetos. Lourenço destaca que a essência do grupo permanece a mesma, mas agora eles buscam também contribuir para a preservação cultural e ambiental da Bahia. “Nosso próximo congresso será uma oportunidade de nos reconectar, de trazer mais pessoas que compartilhem nosso amor pelo mar e pela cultura baiana”, conclui.

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