Memórias de aço e sal: A história do naufrágio do Cavo Artemidi em Salvador

Próximo à entrada da Baía de Todos-os-Santos, repousa uma memória de aço e sal: o Cavo Artemidi, um imponente cargueiro grego que sucumbiu em águas brasileiras há mais de 40 anos. Em setembro de 1980, o navio partiu carregado com 16.800 toneladas de ferro-gusa com destino à Inglaterra quando a força das correntezas o empurrou em direção ao Banco da Panela, um banco de areia ao sul de Salvador. Mesmo após uma colisão inicial, as tentativas de resgate não funcionaram. Um segundo encalhe próximo ao Banco de Santo Antônio decretou seu fim, e o fez virar parte das lendas e dos mistérios da Baía de Todos-os-Santos.

Com 180 metros de comprimento, o Cavo Artemidi impressiona pela grandiosidade e pela história que carrega. Durante décadas, foi um dos pontos mais procurados por mergulhadores do mundo todo, com sua estrutura metálica e superestrutura emergindo das areias em profundidades que variam de 9 a 16 metros. A visão das suas estruturas corroídas e presas em corais e esponjas, proporcionaram uma experiência única para mergulhadores experientes e novatos, que compartilharam o fascínio por explorar os mistérios ocultos de um navio colossal.

Entretanto, o naufrágio está longe de ser estático. Ao longo dos anos, o local vem sendo gradualmente coberto pelas areias e intensas correntes, desafiando cada vez mais a visão clara de sua estrutura. A erosão da área ao redor do naufrágio foi significativa, atingindo profundidades que chegaram a 30 metros e tornando o mergulho mais complexo e arriscado em algumas áreas. De acordo com os mergulhadores locais, o processo de soterramento e sedimentação se intensificou recentemente, despertando a preocupação de que o Cavo Artemidi seja, em breve, engolido de vez pela baía. 

A importância do Cavo Artemidi não se limita apenas à sua popularidade entre mergulhadores. Para pesquisadores e historiadores, ele se tornou um local de estudo e preservação cultural, representando uma época em que as embarcações de grande porte enfrentavam rotas desafiadoras e riscos que, hoje, se converteram em ruínas marinhas. Uma equipe da Universidade Federal da Bahia (UFBA), formada por especialistas em oceanografia, arqueologia e biologia marinha, está documentando cada detalhe do naufrágio em um modelo 3D, na tentativa de preservar virtualmente essa relíquia submersa. O objetivo é garantir que, mesmo que ele seja engolido pela areia, sua estrutura e impacto histórico estejam preservados.

Quando o navio naufragou, ele era uma embarcação potente, projetada para enfrentar as águas do Atlântico; no entanto, as forças oceânicas revelaram sua vulnerabilidade, o transformando de um cargueiro robusto em um artefato histórico, submisso ao avanço das correntes e ao abraço do tempo. 

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