Neste sábado (24), completam sete anos desde o naufrágio da lancha Cavalo Marinho I, que se tornou a maior tragédia marítima da Baía de Todos-os-Santos. A embarcação partiu do Terminal Marítimo de Mar Grande, na Ilha de Itaparica, às 6h30, levando a bordo 116 passageiros e 4 tripulantes, rumo a Salvador. Em questão de minutos, o que deveria ser uma travessia rotineira se transformou em um desastre, resultando em 19 pessoas mortas e 59 feridas.
As marcas deixadas por essa tragédia ainda são profundas. Sobreviventes e familiares das vítimas continuam em busca de respostas e justiça, uma busca que parece cada vez mais difícil de alcançar. A dor de esperar por um desfecho justo reflete o sentimento de negligência e impunidade que permeia o caso.
De acordo com o Portal Metro1, desde o dia do acidente em 2017, as ações judiciais de indenização têm enfrentado uma verdadeira maratona de burocracia e decisões que entram em conflito. A Defensoria Pública da Bahia entrou com 46 processos contra a CL Transportes Marítimos, proprietária da embarcação. Ao longo dos anos, alguns sobreviventes e familiares decidiram recorrer a advogados particulares, mas 36 desses processos permaneceram sob a responsabilidade da Defensoria.
Em 2023, mesmo após a fase de instrução ter sido concluída, uma decisão judicial transferiu os processos para a Justiça Federal, em um movimento que favoreceu os réus e adiou ainda mais o tão esperado julgamento. A Defensoria, na tentativa de reverter essa decisão, apresentou recursos para manter as ações na esfera estadual, mas a definição final sobre qual tribunal é competente para julgar o caso ainda está em aberto.
Negligência e imprudência apontadas como causas
O inquérito conduzido pela Marinha, revelou que o naufrágio foi resultado de uma série de falhas graves. Dez minutos após deixar o terminal, a lancha afundou, e uma das falhas mais críticas foi a instalação inadequada de 400 kg de lastros de concreto, que deveriam auxiliar na manobrabilidade, mas acabaram contribuindo para a instabilidade da embarcação. Esses pesos estavam soltos e, ao se moverem, comprometeram ainda mais a segurança da lancha.
Em 2020, o Tribunal Marítimo responsabilizou diretamente Lívio Garcia Galvão Júnior, proprietário da empresa, e Henrique José Caribé Ribeiro, engenheiro responsável pela embarcação, pelas negligências que levaram ao desastre. No entanto, para as famílias das vítimas, a condenação dessas pessoas ainda não trouxe o sentimento de justiça que tanto almejam.
Memórias de um dia trágico
Entre as imagens mais impactantes daquele dia, uma se destaca: a de um socorrista segurando o pequeno Davi Gabriel, de apenas seis meses, já sem vida. Essa cena, que circulou amplamente na mídia, se tornou um símbolo da tragédia e da dor vivida por todos os envolvidos.
Outro caso que ilustra o impacto prolongado do desastre é o de Adailma Santana Gomes, uma jovem de 27 anos que sobreviveu ao naufrágio, mas foi incapaz de superar os traumas emocionais. Ela desenvolveu um quadro severo de depressão e estresse pós-traumático, que a levou à morte um ano após o acidente. Sua família ainda luta para que ela seja oficialmente reconhecida como a 20ª vítima da Cavalo Marinho I.