Na madrugada de 9 de julho de 1800, o porto de Salvador testemunhou uma tragédia que ressoaria pelos séculos seguintes. O Queen, um imponente navio mercante de três mastros operado pela Companhia Britânica das Índias Orientais, teve seu destino selado por um incêndio de grandes proporções que resultou em uma explosão fatal.
O Queen foi lançado ao mar em 1785 e navegava rumo à Índia e à China em sua quinta viagem. A embarcação transportava 440 pessoas, entre tripulantes e passageiros, e fazia uma parada em Salvador para reabastecer água antes de seguir para Madras, na Índia. Equipado com 26 canhões, o navio de 43 metros de comprimento e 801 toneladas representava a força e a sofisticação do comércio marítimo da época.
O incêndio e a explosão
Por volta das 3h da madrugada, um incêndio irrompeu na sala de armas do Queen, pegando a tripulação de surpresa enquanto dormia. Relatos apontam que o fogo pode ter sido causado por uma canhoneira portuguesa que atingiu o navio por uma escotilha. Apesar dos esforços para conter as chamas, o fogo se alastrou rapidamente.
As correntes marítimas e os ventos afastaram o navio da área de ancoragem, que foi em direção ao Banco da Panela, uma região ao largo do porto atual de Salvador. Por volta das 7h, o navio explodiu, encerrando de forma trágica a tentativa de salvamento. A explosão matou pelo menos 30 soldados, 6 passageiros e 70 marinheiros, segundo registros históricos.
O Kent, outro navio que acompanhava o Queen, permaneceu em Salvador por mais de uma semana, transportando os sobreviventes para Calcutá, na Índia.
Mistérios submersos
Os destroços do Queen permanecem como um enigma. Embora registros históricos apontem para o Banco da Panela como local provável do naufrágio, a exata localização dos restos do navio ainda é desconhecida. Fragmentos de louça, estanho e outros materiais atribuídos ao navio foram recuperados ao longo dos anos, mas a exploração intensiva por caçadores de tesouros dificultou a identificação precisa do sítio arqueológico.
O Queen transportava uma valiosa carga estimada em 150 mil libras esterlinas, além de materiais de guerra e metais como estanho e cobre. Parte desse tesouro permanece desaparecida, enquanto barras de estanho supostamente vindas do naufrágio ainda circulam no mercado internacional.
Com uma história que combina tragédia, comércio e mistério, o naufrágio tem grande importância para estudos marítimos e arqueológicos. É um dos poucos exemplares desse tipo de embarcação britânica em águas brasileiras, oferecendo um vislumbre da complexa rede de comércio e guerra no início do século XIX.
Hoje, a história do Queen é uma lembrança submersa da conexão entre o Brasil e os grandes eventos marítimos globais, reforçando a Baía de Todos-os-Santos como um polo de exploração cultural e científica.
Imagem: Site Naufrágios do Brasil