Em novembro, a Enseada do Bogari volta a receber o colorido das embarcações que já sustentaram a economia e a paisagem da Bahia
As imagens aéreas de velas brancas e coloridas sobre as águas da Baía de Todos-os-Santos guardam mais do que beleza. Por décadas, os saveiros foram responsáveis por mover a economia da região, transportando mercadorias do interior até Salvador. Eram cerca de 1.500 embarcações, um movimento que, além de garantir sustento a milhares de famílias, desenhava um cartão-postal vivo da Bahia.
Esses barcos de linhas singelas, conduzidos por homens que sabiam vencer a maré com vara fincada no fundo para alcançar a praia-mar, hoje estão desaparecendo. Mas o legado segue: foi de um saveiro a primeira imagem da Bahia enviada por Pierre Verger ao mundo.
“O que vemos nessas velas não pode sobreviver apenas na lembrança. É um patrimônio cultural que precisa ser celebrado e mantido vivo”, defende Moysés Cafezeiro, presidente do Observatório da Baía de Todos-os-Santos e idealizador do Festival de Saveiro de São Félix.
O evento, que acontece em novembro, vai trazer de volta o espetáculo das embarcações à Enseada do Bogari, espaço que no passado recebia saveiros descarregando blocos e telhas destinados à feira do Bonfim, ao pé da Ladeira da Lenha.
A proposta é que a população volte a se conectar com essa memória coletiva. “Quando a maré subir, queremos que todos olhem para o mar e sintam a emoção de embarcar em um saveiro”, convida Cafezeiro.
Entre tradição e futuro, o festival não é apenas um espetáculo de velas coloridas no horizonte — é um chamado à memória coletiva. Um lembrete de que a Baía de Todos-os-Santos não se resume a cenário: ela pulsa como estrada líquida, ofício e identidade. E, ao ver os saveiros de volta ao mar, o que se celebra não é só a história que eles carregam, mas a certeza de que esse legado ainda pode navegar no tempo.