50km de superação: Alessandra Melo completa a travessia no Velho Chico

Aos 50 anos, Alessandra Melo, mais conhecida como Leca, é uma das maiores representantes do esporte de ultramaratona aquática no Brasil. Com uma trajetória marcada por feitos impressionantes, como se tornar a primeira mulher a concluir a travessia Salvador-Morro de São Paulo, Leca acaba de conquistar mais um feito marcante: a travessia de 50 quilômetros entre Sobradinho e Juazeiro, no Rio São Francisco, no último sábado (18). Em entrevista ao Guia BTS, ela compartilhou com entusiasmo e emoção a experiência de superação, desafios e o impacto que o evento teve em sua vida.

“Eu tinha o sonho de realizar essa travessia há muitos anos. Sou muito fã e tenho como ídolo o Lourival Quirino, um atleta local de Juazeiro e nadador de águas abertas, uma lenda praticamente. Sei que ele já fez essa travessia três vezes e, por isso, sempre tive uma vontade enorme de nadar nesse trecho, que é belíssimo e muito diferente pra mim, já que estou acostumada a nadar no mar”, disse.

A ideia começou a ganhar forma em 2023, quando Leca iniciou conversas com Felipe Quirino, filho de Lourival, que, por sua vez, colocou a atleta em contato com seu pai. As orientações de Lourival, que conhece como a palma da mão as águas e os desafios da região, foram fundamentais para que Leca se sentisse preparada para encarar o desafio. “Em julho de 2024, nos conhecemos pessoalmente, e ele fez questão de me guiar, sugerindo datas e me dando a benção para continuar meu sonho e realizá-lo”, relembra Leca.

No mesmo período, a atleta conheceu outras pessoas fundamentais para o sucesso da travessia, como Ana Augusta, triatleta local e campeã mundial, e Alice, do grupo “Sereias do Rio”, composto por mulheres que incentivam e praticam natação no Rio São Francisco. Com o apoio de todos, Leca organizou a travessia, marcada para o dia 18 de janeiro, uma data simbólica que celebrava o primeiro aniversário da travessia Salvador-Morro de São Paulo.

A logística e o apoio da comunidade local foram essenciais para que ela conseguisse realizar o percurso sem custos, algo inédito em sua carreira. “Foi a primeira vez que tive que confiar nas pessoas e delegar funções. Eu nunca me senti tão prestigiada, tão acolhida. O povo de Juazeiro, Sobradinho e Petrolina me recebeu com aplausos, fogos e muita festa. Fui super bem recebida”, contou.

Uma travessia desafiadora

A travessia em si, que aconteceu sob um sol forte e temperaturas elevadas, foi um verdadeiro teste de resistência. Com águas cristalinas no início, a beleza natural do Rio São Francisco deixou Leca encantada. “A água estava translúcida, parecia um Caribe, com tons de azul e verde. Eu ia passando por muitas ilhas, que eu já conhecia por ter visto as plaquinhas na ponte de Juazeiro-Petrolina”, relatou.

Entretanto, o desafio não foi apenas físico, mas também psicológico. A nadadora enfrentou ventos fortes contra e uma correnteza que, embora ajudasse, aumentava a dificuldade do percurso. “A correnteza ajudou bastante, mas o vento forte foi um grande desafio. Eu nadei mais da metade da travessia com marolas, o que exigiu muita técnica. A água doce é bem mais pesada que a salgada, então os braços e o corpo sofrem mais”, afirmou.

Ao longo de 7 horas e 44 minutos, Leca não apenas desafiou seus limites, mas também teve momentos de encantamento e espanto ao observar a fauna aquática. “Vi muitos peixes, grandes e pequenos, além de pedras e vegetação linda no fundo do rio. Em certos momentos, parecia que eu estava escalando uma montanha, tamanha a beleza e as pedras que encontrava no caminho”, descreveu.

Entretanto, ela também se deparou com a dura realidade da poluição do Rio São Francisco. “Nadei com a água limpa e translúcida até a ilha do Rodeador, mas, a partir daí, comecei a ver muito lixo, garrafas plásticas, latas e outros resíduos. Isso me entristeceu muito”, lamentou. Durante a travessia, ela utilizou a visibilidade do evento para alertar sobre a importância da preservação ambiental. “Eu queria usar esse desafio como uma forma de conscientizar as pessoas sobre a necessidade de manter o Rio São Francisco limpo, esse berço de águas vital para o Nordeste”, afirmou com determinação

Fotos: Flávio Quadros

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