Explosões submersas: O impacto da pesca com bomba na Baía de Todos-os-Santos

A pesca com bomba também chamada de pesca com explosivo, é um método agressivo e ilegal que causa impactos negativos direto aos ecossistemas marinhos, e deixa um rastro de destruição e degradação ambiental. Além disso, esse tipo de pesca também pode trazer a insegurança alimentar como consequência e afetar a economia local.

No Brasil, o crime de pesca com bomba está previsto no artigo 35 da Lei de Crimes Ambientais, que diz que é crime ‘’pescar mediante a utilização de explosivos ou substâncias que, em contato com a água, produzam efeito semelhante’’, com pena que pode variar entre um e cinco anos para quem for condenado pela prática.

Nesta terça-feira (04) , policiais da Companhia de Polícia de Proteção Ambiental (COPPA), prenderam em flagrante três pessoas que pescavam utilizando bomba na Praia de Boa Viagem. De acordo com informações da imprensa local, dos três presos, dois já são reincidentes pelo mesmo crime.

Moradores e pescadores da Baía de Todos os Santos denunciam o crime de forma constante, seja através das redes sociais ou em diálogo uns com os outros. Apesar de pouco falado, a pesca com bomba é uma prática que tem se tornado cada vez mais comum, principalmente pelo déficit na fiscalização.

Em entrevista ao Guia BTS, o professor José Rodrigues explicou que o ato de detonar um explosivo debaixo do mar, pode afetar a vida marinha que vive a até aproximadamente 30 metros da explosão.

‘’Quando uma carga é detonada na água em ambiente marinho, ela vai dizimar tudo que tem vida dentro de um raio de até 30 metros, podendo chegar a mais dependendo do tamanho dessa carga’’, explicou. 

Além disso, quando o explosivo é detonado morrem também os peixes que não serão comercializados, bem como corais da região, afetando de maneira significativa a cadeia alimentar marinha, já que peixes menores servem de alimento para peixes maiores e podem se tornar alvo da ação criminosa.

O professor explica ainda que a maior parte dos crimes ocorrem em recifes marinhos, e que quando este é danificado, todo o ecossistema entra em uma espécie de colapso, ocasionando perdas importantes para a vida marinha.

‘’Em geral esse crime acontece nos recifes, e quando um recife é danificado todo o ecossistema comum entra em colapso, e aí teremos perdas em áreas que nem foram atingidas de forma direta, mas vão sofrer secundariamente com essas ações’’, afirmou.

A falta de fiscalização para de fato combater o crime é uma queixa constante por parte de quem vivencia as práticas criminosas constantemente. O professor José Rodrigues atribui esse déficit à amplitude do litoral baiano quando comparado a quantidade de agentes especializados em meio ambiente e as ações desenvolvidas de maneira pontual.

‘’A fiscalização realmente não tem conseguido dar conta dessa prática nociva, por conta da amplitude que nós temos em nosso litoral, em especial na Baía de Todos os Santos, com muitos espaços entrecortados, muitos centros urbanos  que fazem com que essas ações pontuais ocorram e as pessoas possam evadir com mais facilidade. A COPPA tem sido bastante atuante para tentar diminuir esse problema, assim como o GEPA (Grupo Especial de Proteção Ambiental), mas ambos tem um número de pessoal limitados e ainda assim realizam ações ostensivas e de prevenção’’, disse.

O educador salientou ainda que acredita que a situação pode começar a avançar com a fiscalização da própria comunidade, que deve refletir sobre o atual cenário e deixar de consumir os pescados que forem obtidos através dessa finalidade, não somente para deixar de financiar criminosos mas também para voltar os olhos a saúde, já que esses peixes podem gerar uma série de malefícios ao corpo humano se não forem consumido rapidamente.

‘’Esses peixes não tem tanta qualidade. Para ser comercializado, precisa ser de imediato, porque ele vai degradar mais rápido devido ao choque que vai destruir os órgãos internos deste animal, mesmo que ele esteja com o tamanho apropriado para pesca.Com isso, o valor comercial tende a ser mais baixo, ou ele é vendido de forma imediata ou o produto será perdido. Então a própria população passa a não querer adquirir, fazendo com que o pescado diminua a valorização e por consequência, surge no entendimento das pessoas que é um crime que existe para a geração de renda. Mas ninguém sobrevive da pesca com bomba’’, contou.

Com isso, é notória a necessidade de fiscalização para que o meio ambiente continue sendo preservado como um todo, fazendo com que seu ecossistema e vida marinha se reproduza e continue proporcionando uma melhor qualidade de vida ao indivíduo seja direta ou indiretamente. 

‘’No momento atual em um segundo milênio, já estamos avançando com outras pautas e essa ainda permanece sem solução definitiva. […] Eu tenho esperança que a gente possa nos próximos meses ou anos, ver essa prática extirpada do nosso litoral’’, concluiu o professor José Rodrigues.

O vereador André Fraga do PV em Salvador, afirmou em entrevista ao Guia BTS que vê a necessidade da criação de uma força tarefa especificamente voltada ao combate aos crimes ambientais.

‘’Temos uma cidade banhada pela maior Baía do Brasil, a segunda maior do mundo. Precisamos cobrar mais fiscalização, como uma força tarefa que inclua a Polícia Militar, a Guarda Municipal de Salvador e outros municípios e também a Marinha’’, pontuou.

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