Startup baiana restaura a biodiversidade da Baía de Todos-os-Santos

A Baía de Todos-os-Santos se tornou o cenário de um projeto que ajuda na capacitação de marisqueiras e jovens que auxiliam na restauração ecológica de recifes de corais degradados no fundo do mar. A iniciativa é liderada por José Roberto Caldas, ou como é conhecido, o famoso Zé Pescador que apesar do nome, abandonou a pesca para se dedicar à proteção ambiental. 

Zé é o CEO da Startup Carbono 14 e fundador da ONG Pró-Mar, que surgiu no ano 2000 com o objetivo de ajudar no controle do coral-sol, uma espécie considerada invasora e que  causa diversos danos à biodiversidade nativa. Essa espécie se instaurou no Brasil incrustada em plataformas de petróleo e navios. 

No processo para a recuperação da espécie, o coral indesejado é extraído e seu esqueleto calcário é utilizado na construção de sementeiras para a fixação de mudas dos corais nativos, que são implantados nos recifes. 

Zé Pescador destaca ainda a importância da cooperação com instituições de pesquisa e ONGs ambientais para garantir o sucesso do projeto. Ele enfatiza que a conscientização da comunidade local sobre a importância da preservação dos recifes é fundamental para a sustentabilidade a longo prazo. De acordo com ele, “a ideia é que o método ganhe escala e se transforme em política pública na Década da Restauração de Ecossistemas da ONU”. 

Em entrevista ao Guia BTS, Zé contou que decidiu virar a chave e mudar de rumo quando foi questionado por sua filha sobre o motivo do seu trabalho. 

“Um dia, ao voltar da pesca, enquanto eu separava lagostas, Janaína se aproximou e viu uma das lagostas com bolinhas amarelas na barriga. Respondi que eram ovas. Ela insistiu na conversa, querendo saber o que eram ‘ovas’. Eu disse que cada bolinha era um filhote. Foi naquele instante que tudo começou a mudar. O olhar dela era de decepção ao perguntar porque eu não esperava os filhotinhos da lagosta nascerem primeiro. Isso foi muito forte para mim”, contou. 

Desde então o pescador se dedica a cuidar da biodiversidade marinha e incentivar que outros também realizem esse trabalho. No dia 2 de maio ele ajudou na formação de uma turma de 5 jovens do projeto Corais de Maré, formado por uma parceria do Instituto de Pesca Artesanal de Ilha de Maré, do Instituto de Geociências da UFBA e da Startup 14.

“Inicialmente formamos 5 jovens em um curso de restauração de corais. Nesse curso trabalhamos com pescadores, marisqueiras e jovens, ensinando um pouco sobre a vida dos corais e a importância que ele tem para o ambiente”, contou.

As aulas começaram em agosto de 2023 e os alunos aprenderam por meio da teoria e da prática, a criar sementeiras a partir do coral bioinvasor. 

“Nesse processo nós extraímos o coral-sol, ele era levado para Ilha de Maré para secar, ser processado, triturado, e daí ser retirado o substrato onde a espécie de coral nativa é cultivada”, explicou Zé. 

Além disso, o pescador destaca que o projeto é importante para que os jovens moradores da Ilha de Maré tenham mais contato com a biodiversidade da região, e aponta que a ciência cidadã desempenha um papel importante na formação intelectual dessas pessoas. 

“Esse não é um projeto científico, é um projeto de desenvolvimento que busca levar conhecimento através da ciência cidadã. Utilizamos uma linguagem mais popular para fazer com que os jovens entendam como a vida marinha funciona. O objetivo é levar a ciência para as comunidades locais, e estabelecer uma conexão maior com os jovens que moram na ilha com a biodiversidade”, contou.

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