Após 45 anos operando na travessia Salvador-Itaparica, o ferry boat Agenor Gordilho agora repousa no fundo da Baía de Todos os Santos, assumindo uma nova função: tornar-se um recife artificial e atrativo para o turismo subaquático. A operação de afundamento assistido foi concluída em 21 de novembro de 2020, seguindo um planejamento técnico que envolveu órgãos estaduais, a Marinha e especialistas em preservação ambiental.
O afundamento, inédito no Brasil para uma embarcação desse porte, tinha o objetivo de transformar a baía em um destino ainda mais atrativo para mergulhadores e promover a preservação ambiental. “Esse é o primeiro ferry afundado no Brasil com finalidade turística, e o impacto será significativo. Precisamos nos apropriar do conceito de Amazônia Azul e usá-lo para fortalecer o turismo, criando emprego e renda”, afirmou o secretário estadual de Turismo, Fausto Franco.
Planejamento e execução controlada
Antes de ser levado ao fundo do mar, o ferry passou por um rigoroso processo de preparação. Óleos, combustíveis e materiais nocivos, como amianto, foram removidos para garantir a segurança ambiental. Em entrevista ao Jornal Correio, o engenheiro Fernando Clark, responsável pelos estudos técnicos, o planejamento do afundamento levou dois anos e incluiu análises detalhadas para minimizar os impactos.
“O diferencial desse tipo de naufrágio é o controle. Em naufrágios comuns, há combustíveis, motores e cargas que podem causar sérios danos ambientais. Aqui, tudo foi feito de forma controlada para que o impacto fosse o menor possível”, explicou Clark. A embarcação, de 71 metros de comprimento, foi posicionada a 1,5 quilômetro da costa, em um ponto com 36 metros de profundidade, onde já é possível realizar mergulhos de observação.
A operação teve início às 6h30, com a movimentação do ferry da base em Bom Despacho até o local do naufrágio. Às 11h, as comportas foram abertas, e a embarcação levou aproximadamente 1h30 para afundar completamente.
Impacto ambiental e histórico
A transformação do Agenor Gordilho em recife artificial é vista como um marco para a Baía de Todos os Santos. O historiador Rafael Dantas, que acompanhou o afundamento, destacou o papel histórico e cultural da baía. “A BTS é um espaço de conexão histórica, onde mercadorias, pessoas e ideias circularam ao longo dos séculos. Agora, com mais um recife artificial, reforçamos sua importância cultural, além de criar novos atrativos para mergulhadores e turistas”, comentou.
Para Dantas, os naufrágios controlados são uma oportunidade de unir história e preservação ambiental. “Além da beleza natural e da rica biodiversidade, esses locais ajudam a contar a história da cidade e do Brasil, conectando Salvador ao mundo”, acrescentou.
Ferry com história e legado
Construído no Rio Grande do Sul, o ferry Agenor Gordilho começou a operar em 5 de dezembro de 1972 e foi uma peça fundamental no sistema de transporte entre Salvador e Itaparica. Ele recebeu o nome em homenagem ao empresário Agenor Gordilho, que teve papel importante no desenvolvimento econômico da Baía de Todos os Santos.
A iniciativa de afundamento fez parte do Programa Nacional de Desenvolvimento do Turismo na Bahia (Prodetur), que estipulou US$76 milhões em investimentos na Baía de Todos os Santos. O programa inclui intervenções náuticas e culturais, como a criação de recifes artificiais, e busca reposicionar a região como um dos principais destinos turísticos do Brasil.
O afundamento do ferry é apenas uma etapa de um projeto maior, que inclui a valorização do turismo náutico e a preservação ambiental da maior baía do Brasil. A iniciativa reforça o potencial da região para se consolidar como referência em turismo sustentável, unindo história, natureza e desenvolvimento econômico.