Família Saback: Três gerações unidas pelo amor à canoagem

A história da família Saback com os esportes aquáticos começou em um momento inesperado. Antônio Saback, marido de Jackie Saback, sofreu um grave acidente de cavalo que quase lhe custou a vida. Em entrevista ao Guia BTS, Jackie relembrou essa trajetória e como tudo começou no esporte. “Ele fraturou oito costelas, perdeu o baço, furou o pulmão… foi uma loucura. Quando ele viu pela primeira vez alguém andando de stand-up paddle, achou que poderia ser uma boa opção para praticar um esporte sem impacto”, lembra Jackie.

Esse episódio marcou o início de uma jornada que transformaria não só a vida do casal, mas também das gerações seguintes da família, que começaram a partir dali a paixão por um esporte. “Sempre fomos muito ligados ao mar. Meu pai era velejador, adorava navegar. Eu nasci dentro d’água e meus filhos também. Então, foi natural voltarmos aos esportes aquáticos”, diz.

O stand-up paddle foi a primeira modalidade a unir a família novamente ao mar. Jackie começou a remar ao lado do marido como forma de incentivo. Em pouco tempo, Nicole, filha do casal, também foi incluída. “Eu pensei: isso é legal, vou tentar agregar toda a família. Dei uma prancha para minha filha, um remo para meu genro e começamos a remar juntos. Foi uma forma de ajudar na recuperação do Antônio e também de criar uma atividade em comum”, relata.

Com o tempo, a busca por melhorar a performance no stand-up levou Jackie e Nicole a descobrirem a canoa havaiana. O que começou como uma ferramenta para desenvolver força e ritmo se tornou uma paixão. “Nos apaixonamos pela canoa, e ela acabou virando o centro da nossa rotina esportiva. A família já tinha histórico de esportes, como regatas, travessias, campeonatos de pesca, então foi um retorno às nossas raízes no mar.”

Tradição que transcende gerações

Jackie explicou que a paixão pelo esporte foi transmitida para as novas gerações de maneira natural, assim como foi perpassada por seu pai. “Acho que a gente inspira pelo exemplo. Meu pai, com as aventuras dele de barco e pesca, e meu marido, com as dele na natação. Isso influenciou os filhos e agora os netos. Minha neta Sue, por exemplo, nasceu nesse ambiente. Desde pequena, ela andava de prancha com a mãe ou comigo, sentadinha, curtindo o balanço do mar. Hoje, ela participa de campeonatos e já conduz a própria canoa.”

Sue, agora com 14 anos, já trouxe medalhas importantes para a família, como o ouro no Pan-Americano Júnior deste ano. “Foi incrível porque, em Salvador, não temos muitas equipes na faixa etária dela. Para competir, precisamos viajar ao Rio ou ao Sul. Essa medalha foi muito disputada e tem um valor enorme para nós.”

União e Competitividade

Além de uma prática familiar, a canoagem se tornou uma forma de unir ainda mais os Saback. Eles treinam juntos quase todos os dias, divididos entre a Baía de Todos-os-Santos e Lauro de Freitas. “Os treinos começam cedo, às 4h40 da manhã, e são intensos. Temos uma rotina planejada, com alimentação balanceada, suporte de nutricionista e planilhas de treino. Cada detalhe faz diferença”, detalha Jackie.

A base de canoagem da família, Kirimurê, nome inspirado no termo indígena para a Baía de Todos-os-Santos, é um ponto central na rotina esportiva. Com duas escolas bem estruturadas, a base também fomenta o esporte na região e já foi premiada por essa atuação. “Nós treinamos e competimos juntos. Já participamos de campeonatos estaduais, nacionais e até internacionais. No ano passado, ganhamos o campeonato brasileiro de canoa mista. Recentemente, competimos no mundial no Havaí, representando o Brasil em diferentes categorias. Foi uma experiência única.”

Desafios e Realizações

Jackie destaca ainda as dificuldades de competir em um esporte que exige tanto preparo físico e mental. Uma das provas mais desafiadoras foi a Volta à Ilha de Vitória, no Espírito Santo, uma travessia de 36 quilômetros. “O mar estava duro, mas conseguimos completar a prova juntos. Essas experiências reforçam o que somos como família.”

Embora o número exato de medalhas conquistadas pela família seja incalculável, Jackie enxerga os troféus como frutos de algo muito maior. “Não sei dizer quantas medalhas temos. É um mundo de medalhas, porque somos cinco competindo. Mas o mais importante não é o número. É o que essas conquistas representam: alegria, união e o prazer de estar no mar.”

Hoje, ela se sente realizada ao ver o impacto do esporte em sua vida e na de sua família. Após se aposentar, ela assumiu novos papeis, como instrutora de canoagem e gestora da base. “Nunca fui tão feliz na minha vida. Espero que essa paixão pelo mar continue sendo passada para os netos e para as próximas gerações.”

Para outras famílias, Jackie deixa um conselho. “Procurem algo que possam fazer juntos. Esse elo em comum faz muita diferença. Nós somos muito felizes porque encontramos no esporte uma forma de nos conectarmos. Nada nos dá mais alegria do que remar na Baía de Todos-os-Santos e levar adiante o amor pelo que fazemos.”

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