Mostra da artista baiana Ana Laura Lacerda celebrou a arte do mar com obras inéditas e a vista deslumbrante da Baía de Todos-os-Santos
A exposição “Conchas Preciosas e a Arte do Mar”, da artista plástica baiana Ana Laura Lacerda, encerrou sua temporada no Centro de Cultura Manuel Querino, da Câmara de Vereadores de Salvador, com uma marca expressiva: mais de 1500 visitantes em apenas 11 dias. Entre turistas, moradores e apaixonados por arte, a mostra foi um convite à contemplação do oceano em suas formas mais delicadas — as conchas.
Realizada com o patrocínio do Governo do Estado da Bahia, através da Secretaria de Turismo, a exposição reuniu 40 obras, incluindo dois painéis inéditos de grande porte, em uma homenagem sensível à vida marinha e ao imaginário coletivo. O cenário não poderia ser mais simbólico: debruçada sobre a Baía de Todos-os-Santos, no coração do Centro Histórico, a mostra oferecia, além da arte, um dos mais belos cartões-postais de Salvador como pano de fundo.
“Até eu me surpreendi com a receptividade e entusiasmo do público com minha arte. Foram momentos de grande alegria, recebendo carinho de pessoas de todas as partes do Brasil e do mundo”, contou Ana Laura, que fez questão de recepcionar o público nos dias de visitação.
Entre as obras que mais despertaram curiosidade, estavam Farol e Mama África, inéditas e impactantes tanto pelo tamanho quanto pela proposta. Em cada uma, mosaicos tridimensionais compostos por conchas e búzios desenhavam narrativas que uniam beleza natural e reflexão. “Farol representa o poder da arte em iluminar consciências. Já Mama África homenageia o continente como berço da humanidade e da diversidade cultural”, explicou a artista, cuja trajetória foi iniciada no início dos anos 1980 e retomada com força total em 2020, após uma pausa dedicada à maternidade.
Mais do que peças ornamentais, as obras expostas são fruto de um olhar engajado e cuidadoso com o meio ambiente. Ana Laura utiliza madeira de lei autorizada, reaproveita materiais do mar de forma consciente e ainda movimenta a economia das comunidades marisqueiras das ilhas próximas a Salvador, que fornecem parte das matérias-primas usadas em seus painéis.
“Para além da beleza, as conchas são abrigo, história e símbolo de equilíbrio ecológico. Quando retiradas em excesso ou tratadas como meros souvenirs, causam desequilíbrio. Minha arte busca devolver a elas o lugar de nobreza que merecem”, pontua a artista.
A proposta agora é ampliar os horizontes. Após o sucesso em Salvador, Ana Laura planeja levar sua “Arte do Mar” a outras capitais brasileiras, mantendo o propósito de unir beleza estética, memória afetiva e consciência ambiental.
A trajetória da artista é longa, mas renovada. Em 1982, aos 20 anos, ela estreou com uma mostra solo no foyer do Teatro Castro Alves, sendo acolhida por nomes como Calasans Neto e reconhecida em salões importantes do país. Hoje, do ateliê no Santo Antônio Além do Carmo, Ana Laura segue encantando com sua arte delicada, potente e profundamente conectada ao mar.
“Cada concha tem uma beleza única que impressiona. O mar me fascina e Deus me inspira. Aí está a infinita arte do Criador”, conclui, com a serenidade de quem transforma conchas em poesia visual.