Blackadder: O naufrágio que se tornou tesouro submerso na Baía de Todos-os-Santos

No início do século XX, a Baía de Todos-os-Santos presenciou o trágico fim do Blackadder, um dos últimos clippers de ferro construídos para o comércio de chá com a China. O imponente navio, com suas três grandes mastros e casco de ferro, foi projetado para velocidade, mas sua trajetória foi marcada por acidentes e má sorte. A história culminou em 1905, quando, durante uma tempestade, o Blackadder foi jogado contra os recifes da Praia de Boa Viagem, em Salvador, enquanto realizava manobras no porto. Hoje, seus destroços repousam a cerca de 9 metros de profundidade, e seu sítio arqueológico se tornou um paraíso para mergulhadores e estudiosos da região.

“O Blackadder está localizado na região da Boa Viagem. Ele é um clipper de ferro, conhecido pelas suas três grandes mastros, uma característica marcante. Ele já aparecia na capa de um famoso whisky chamado Cutty Sark”, comenta Robson Oliveira, biólogo marinho e mergulhador experiente. Robson, que explorou inúmeras vezes os destroços do navio, descreve sua história: “Ele era visto como um azarão. O navio sofreu um acidente logo em sua viagem inaugural e, após reparos, naufragou novamente em Salvador por conta de uma forte tempestade. Bateu nos recifes e afundou.”

O naufrágio, agora um recife artificial, abriga uma rica biodiversidade marinha. Robson revela que o local é casa de uma vida marinha diversa, incluindo corais, moreias e até cavalos-marinhos. “Estamos criando um novo parque marinho, que se chamará Cavalo Marinho, porque esse ponto tem uma grande presença desses animais. É uma área que não só atrai mergulhadores pela história, mas também pela beleza e biodiversidade”, explica ele.

Além das belezas naturais, o Blackadder possui um valor histórico significativo. O sítio arqueológico, embora parcialmente desmantelado, ainda guarda relíquias de sua construção, como os mastros, o leme e parte da estrutura de ferro do casco. “Um dos meus momentos mais marcantes foi quando registrei um peixe chamado Hogfish, o primeiro registro dessa espécie no Brasil, e foi aqui no Blackadder. Esse dado foi até publicado em uma revista científica internacional”, relembra Robson.

Salvador, segundo o mergulhador, é um dos melhores locais do mundo para o mergulho em naufrágios. A cidade abriga uma quantidade significativa de navios submersos, tanto artificiais quanto naturais, que são facilmente acessíveis, seja por terra ou por mar. “Qualquer pessoa pode mergulhar nos naufrágios daqui. Em Salvador, os naufrágios estão a uma profundidade de até 10 metros, o que permite que mergulhadores de diferentes níveis explorem esses sítios”, ressalta.

Com o aumento da visitação e a falta de um plano de manejo adequado, o sítio do Blackadder também enfrenta desafios. “Infelizmente, não há diretrizes claras sobre como as operadoras de mergulho devem agir no local. As âncoras são lançadas nas proximidades do naufrágio, o que pode causar danos às suas estruturas”, alerta o biólogo.

O Blackadder, que um dia cruzou os oceanos com rapidez, hoje repousa sob as águas calmas da Baía de Todos-os-Santos, transformado em um elo entre o passado e o presente, e em uma nova joia do turismo subaquático da região.

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