Gestor de praias: a função que pode mudar o futuro do litoral baiano

O aumento da ocupação comercial nas praias de Salvador reacendeu um debate que vai além do ordenamento urbano ou do turismo de verão. Está em jogo o valor real das praias enquanto ativo ambiental, social e econômico. Diante desse cenário, o professor Rodrigues propõe uma figura ainda pouco discutida no Brasil: o gestor de praias.

A ideia parte de um ponto central. As praias são o maior ativo turístico da Bahia, mas continuam sendo administradas sem uma gestão integrada que considere, ao mesmo tempo, sustentabilidade ambiental, convivência social e rentabilidade econômica. Para o especialista, esse vazio técnico e estratégico ajuda a explicar conflitos recorrentes, degradação ambiental e decisões de curto prazo que comprometem o futuro desses espaços.

A seguir, o professor Rodrigues desenvolve o conceito e defende a criação e a formação de um profissional capaz de coordenar, planejar e proteger as praias como patrimônio coletivo e motor econômico:

O GESTOR DE PRAIAS (por José Rodrigues)

Nos últimos meses temos assistido ao aumento de denúncias sobre a crescente ocupação das praias soteropolitanas pelo comércio, evidenciando importantes conflitos de usos destes ecossistemas. Este fenômeno destaca questão ainda mais importante “o verdadeiro valor econômico das praias”, em artigo recente sobre a Economia Azul, destacamos que este só pode ser avaliado se levarmos em conta as perspectivas natural, social e econômica. As praias são o maior ativo turístico da Bahia e a gestão destes espaços necessita de um profissional capacitado em todas essas dimensões. Esse especialista, que propomos chamar de “gestor de praia”, deve assegurar a rentabilidade econômica a curto prazo, minimizar os conflitos sociais e prevenir a degradação deste relevante ambiente costeiro.

A competência legal para gestão de praias no Brasil está na administração pública federal mas existe há alguns anos, o Termo de Adesão à Gestão das Praias (TAGP), que tem por objeto transferir ao Município a gestão patrimonial das praias marítimas de seu território, inclusive as áreas de bens de uso comum com exploração econômica. Contudo, destacamos também sua relevância para o setor privado, particularmente aos empreendimentos hoteleiros e condomínios localizados à beira-mar. Neste sentido, nossos estudos indicam que a gestão integrada de praias abrange oito áreas principais, que vão desde aspectos técnicos e naturais, como a gestão geomorfológica e ecossistêmica, até aspectos econômicos e sociais, como a gestão de serviços e a gestão educativa ou sociocultural. Portanto, é fundamental que o gestor de praia compreenda todas essas áreas e perspectivas para coordenar eficazmente a gestão com uma visão de longo prazo voltada também à sustentabilidade econômica.

Assim, apresentamos a gestão de praias como uma estratégia administrativa para lidar com as dificuldades que os governos locais enfrentam na manutenção e gestão eficiente desses ecossistemas. Desta forma, sugerimos a possibilidade de o setor privado também assumir essa responsabilidade como parte da compensação pelo uso direto ou indireto dessas valiosas áreas costeiras e propomos que estes empreendimentos costeiros considerem as praias seu ativo mais importante. Neste contexto, o treinamento para gestores de praia é crucial e deve ser adaptado às necessidades atuais que vão além do conhecimento técnico, essa formação deve incluir habilidades interpessoais para lidar com os desafios em constante evolução na gestão de praias.

Por fim, ressaltamos que o verdadeiro valor econômico das praias vai além do turismo de massa, ele reside em integrá-las à estrutura financeira do setor turístico e imobiliário, sendo a avaliação da paisagem o principal indicador de mudança.

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