O mergulho para pessoas com deficiência oferece uma experiência transformadora, possibilitando acesso à beleza subaquática e promovendo inclusão. Com equipamentos adaptados e instrutores qualificados, pessoas com diferentes tipos de limitações físicas podem desfrutar das maravilhas do mar e superar uma imensidão de barreiras.
Em entrevista ao Guia BTS, o mergulhador, biólogo, especialista em mergulho adaptado em Salvador e proprietário da Submerso Sup & Dive, Robson Oliveira, explicou como é feito esse processo de inclusão para alunos com deficiência, destacando a importância de oferecer esse tipo de oportunidade para que o ramo se torne cada vez mais acessível.
“Primeiro eu busco entender a deficiência de cada aluno para poder adaptar o mergulho aquela pessoa. Aqui trabalhamos com todos os tipos de deficiência, seja ela motora ou intelectual. Durante o ano realizamos o projeto de banho de mar assistido, e levamos as pessoas para fazer esportes adaptados como caiaque, snorkel e outras atividades. Acredito que esse é um trabalho muito importante para inserir cada vez mais a acessibilidade”, disse.
Além de adaptar as aulas, Robson também precisou ir em busca de equipamentos adaptados para atender a este público, já que muitos desses instrumentos de apoio não eram comercializados no Brasil.
“Uma bióloga com paralisia na face me procurou contando que tinha o sonho de mergulhar. Estudei formas de adaptar o mergulho para ela e encontrei a máscara full face como opção, mas o equipamento não era vendido no Brasil e um amigo precisou trazer dos Estados Unidos para mim”, contou.
A máscara full face é diferente da tradicional snorkel utilizada em mergulho, já que não há precisão de ligar o tubo de respiração à boca, fazendo com que a pessoa que possui algum tipo de deficiência na face não precise forçar a mandíbula durante o mergulho.
Robson contou ainda que a preparação do instrutor de mergulho PCD é diferente das demais, já que este profissional precisa compreender de maneira real a deficiência de cada portador.
“O instrutor de mergulho adaptado precisa ter amor. No curso aprendemos na pele o que é ser deficiente para colocarmos em prática e termos essa sensibilidade de sentir o que o aluno sente. Já mergulhei amarrado, vendado, para sentir como é estar dentro do mar com a mobilidade reduzida”, explicou.
Um de seus companheiros fieis é o atleta paralímpico Brasileiro Fernando Fernandes, que contou que em seu primeiro mergulho auxiliado pelo Robson, sentiu que flutuava sob o oceano.
“Meu primeiro mergulho foi de entendimento, com o espaço, com a roupa, sobre como me portar naquele lugar. Depois que se habitua, você vai criando um entendimento com o corpo de uma forma que nenhuma outra atividade te dá, porque ali as penas não fazem diferença nenhuma, você está flutuando”, disse.
“Fora da água a gente quer atropelar tudo pela maneira como as coisas acontecem, na água temos o entendimento de que precisamos ir com calma. A natureza passa isso”, completou.
O atendimento fornecido por Robson atende também as pessoas que não podem pagar pelo serviço, e o contato com a equipe Submerso pode ser feito através do telefone 71 98705-6860 ou 71 98676-4168. A sede do projeto fica localizada na Rua Barão de Itapoan, número 53, no bairro da Barra em Salvador.
As aulas de mergulho acontecem numa área de proteção ambiental do Parque Marinho da Barra, porta de entrada para a Baía de Todos-os-Santos. As águas calmas da região proporcionam uma bela vista da vida marinha, sendo possível interagir com diversas espécies de peixes e tartarugas, além de favorecer ainda mais a experiência para pessoas com deficiência.
A importância da inclusão
Especialistas apontam que o mergulho adaptado oferece uma série de benefícios físicos, emocionais e sociais para pessoas com deficiência. Ele proporciona uma sensação de liberdade e igualdade, permitindo que indivíduos com diferentes habilidades explorem o mundo subaquático de maneira independente. Além disso, o ambiente aquático oferece uma forma de exercício de baixo impacto, promovendo a mobilidade e a força muscular.
Para muitos, o mergulho também tem um impacto significativo na autoestima e na confiança, permitindo que superem desafios e alcancem metas pessoais. Além disso, a interação com a vida marinha e a natureza pode ter efeitos terapêuticos, ajudando a reduzir o estresse e melhorar o bem-estar emocional. Ao participar de programas de mergulho adaptado, as pessoas com deficiência também têm a oportunidade de se conectar com uma comunidade inclusiva e de compartilhar experiências com outros mergulhadores.
Dentro d’água, as limitações desaparecem e a liberdade se revela, permitindo que pessoas com deficiência mergulhem em um universo de possibilidades. Com a crescente conscientização e disponibilidade de programas inclusivos, o mergulho adaptado tem se tornado uma oportunidade acessível para todos os amantes do mar.
A Baía de Todos-os-Santos é um território cheio de riquezas a serem exploradas, não apenas enriquecendo vidas individuais mas promovendo a cultura de inclusão e respeito, mostrando que não há limites para a paixão pelo oceano.