Um levantamento da Veracel Celulose e divulgado pelo Jornal A Tarde, expôs a extensão da poluição por plásticos na praia adjacente ao Terminal Marítimo de Belmonte, na Costa do Descobrimento, sul da Bahia. A pesquisa revelou que os resíduos encontrados na área têm origem em mais de 20 países diferentes, fornecendo um panorama detalhado do impacto das correntes oceânicas e das variações sazonais no acúmulo de lixo plástico.
Este estudo aponta para um problema global mais amplo: a cada ano, aproximadamente 14 milhões de toneladas de resíduos plásticos são despejadas nos oceanos devido à má gestão de resíduos, conforme estimativas do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). Desde 1980, a quantidade de lixo plástico marinho cresceu exponencialmente, prejudicando cerca de 270 espécies de fauna marinha, incluindo 86% das tartarugas marinhas, 44% das aves marinhas e 43% dos mamíferos marinhos. Além disso, um levantamento do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IO/USP) aponta que mais de 95% dos resíduos encontrados nas costas brasileiras são de plástico.
Segundo dados da ONG norte-americana Center for Climate Integrity, apenas 9% do plástico produzido globalmente é reciclado. Carolina Weber Kffuri, bióloga e especialista em Responsabilidade Social da Veracel, explica que a pesquisa em Belmonte foi motivada pela crescente preocupação com a quantidade de lixo nos oceanos: “Há mais de dez anos chegou a informação que em breve teríamos mais lixo do que peixes no mar”.
Kffuri ressalta que a descoberta de 250 kg de plástico em uma faixa de dois quilômetros em apenas oito semanas sublinha a gravidade da situação. A maior parte do lixo encontrado consiste em embalagens de alimentos líquidos, embora itens variados, como um pacote de macarrão instantâneo intacto de origem asiática, também tenham sido recolhidos.
Conscientização e impacto local
Os pescadores locais relatam uma crescente incidência de resíduos plásticos capturados em suas redes, bem como fragmentos de plástico encontrados dentro dos peixes. Antônio Alves dos Santos, filho de pescador, observa que a presença de lixo plástico é agora uma realidade cotidiana para a comunidade pesqueira. “Já está normal isso. Eles pegam muitas sacolas e garrafas plásticas, principalmente”, explica.
Para ele, a solução exige uma mudança de comportamento não apenas dos habitantes das áreas costeiras, mas de todos que vivem em locais onde os resíduos podem acabar nos oceanos. “Porque um lixo que se joga na rua em uma cidade com rio, pode chegar no mar. Em qualquer lugar é preciso que todos tenham cuidado. O problema é de todos”, diz.
Correntes oceânicas e mudanças climáticas
A pesquisa da Veracel também investiga o papel das correntes oceânicas na distribuição dos resíduos. A Corrente do Brasil, que opera principalmente entre abril e setembro, é responsável por levar os plásticos para a costa brasileira. Carolina Weber Kffuri enfatiza que o monitoramento dessas correntes é crucial para entender as relações entre as mudanças climáticas e a acumulação de resíduos plásticos. “Ao monitorarmos o lixo que a corrente traz, também conseguimos entender possíveis relações entre alterações nos padrões da corrente com as mudanças climáticas da nossa região”, diz Kffuri.
Iniciativas e futuro
A Veracel, com sua fábrica em Eunápolis e operações florestais em 11 municípios do sul da Bahia, está comprometida com ações ambientais, incluindo o Programa de Monitoramento de Quelônios. Este programa, apoiado pela consultoria Ambipar, monitora a reprodução das tartarugas marinhas em mais de 35 quilômetros de praias. A Veracel planeja expandir seu projeto de monitoramento de resíduos plásticos para complementar essas iniciativas.
Kffuri conclui: “Estamos fazendo um protocolo com a equipe para ampliar a área de atuação do projeto de monitoramento do lixo plástico”.