José Zacarias, economista, professor universitário e estrategista, é um dos principais nomes quando o assunto é a Baía de Todos-os-Santos. Criador do primeiro guia da região, ele tem se dedicado a desvendar o potencial ainda inexplorado de um grande patrimônio natural e cultural do Brasil. Em entrevista ao programa Guia BTS, Zacarias destacou a necessidade urgente de reavaliar a forma como o turismo náutico é conduzido, propondo novas rotas e soluções para impulsionar o setor.
“Ainda não entendemos esse rico patrimônio que temos. Existem inúmeras possibilidades que não estão sendo exploradas por questões culturais, falta de investimento e incentivos adequados. Trouxemos para a Bahia grandes conglomerados que receberam a atenção do Governo Estadual e Federal. A náutica precisa do mesmo suporte para desenvolver todo o seu potencial”, afirma.
Atualmente, os passeios turísticos na Baía se concentram nas escunas que partem de Salvador rumo à Ponta de Areia, em Itaparica. Para Zacarias, essa limitação é um reflexo da falta de planejamento estratégico e de investimentos na criação de novas rotas que poderiam incluir locais como Bom Jesus, Salinas, Maragogipe, Cachoeira e outros. “Precisamos encontrar modelos adequados para acessar essas localidades de forma eficiente e atraente para o turista. Esse é um dos nossos focos de estudo no momento.”
Com uma visão detalhada e estratégica, Zacarias coordenou a criação de 19 programas e 57 projetos voltados ao esporte e recreio náutico. Segundo ele, o impacto econômico da náutica é expressivo: “Um barco gasta de 8% a 15% do seu valor de investimento em despesas locais, como marina, marinheiro, limpeza, combustível e consumo. Investir em infraestrutura náutica é essencial, mas o custo de um barco é elevado, e tributar pesadamente sua produção não é inteligente. Uma tributação mais leve pode gerar ganhos muito maiores na economia local.”
Outro ponto de estudo é a distância das ilhas, que atualmente dificulta a ampliação das rotas de navegação. Com cerca de mil quilômetros quadrados, a Baía de Todos-os-Santos oferece um cenário vasto, mas pouco acessível. O analista ressalta que as escunas, embarcações motorizadas e relativamente lentas, não conseguem atender a demanda de novas localidades por conta do tempo prolongado de deslocamento, o que compromete a experiência do turista. “Precisamos adicionar componentes que atraiam o turista pela náutica, diversificar as opções e criar uma experiência única.”
Para Zacarias, o desenvolvimento da náutica e do turismo na Baía de Todos-os-Santos passa por um repensar estratégico, com foco em inovação, infraestrutura e políticas públicas que incentivem o setor.