Maraldi: o naufrágio centenário que guarda história nas águas do Parque Marinho da Barra


Na fatídica noite de 28 de fevereiro de 1875, o vapor inglês Maraldi encontrou seu fim nas águas da Baía de Todos-os-Santos. Após deixar Buenos Aires, com destino a Amsterdã, carregado de lã e couro, o navio foi surpreendido pelas fortes correntezas locais ao tentar entrar na enseada de Salvador. O Maraldi encalhou nas pedras rasas entre o Forte de Santo Antônio (Farol da Barra) e o Forte de Santa Maria, não muito distante da costa. Embora a tripulação tenha sido resgatada, o navio jamais foi retirado do local e, aos poucos, foi sendo consumido pelo tempo e pelas águas.

Hoje, mais de um século depois, o naufrágio do Maraldi não é apenas uma memória histórica, mas também um ponto de mergulho popular entre aventureiros e pesquisadores. Segundo Tuca Galvão, experiente mergulhador e proprietário da Bahia Scuba, “o Maraldi é um naufrágio muito acessível, o que o torna um local de visitação frequente. Não é necessário o uso de embarcação para chegar até ele, mas é preciso respeitar a maré. O mergulho só é viável durante a preamar”.

A proximidade com a costa, a menos de 80 metros, faz do Maraldi um naufrágio único, especialmente para mergulhadores iniciantes. Por ser um naufrágio raso, é possível mergulhar com equipamento básico, como máscara, nadadeiras e snorkel. Mas o local também atrai mergulhadores mais experientes, que usam equipamentos SCUBA para explorar os detalhes da estrutura e a vida marinha ao redor dos destroços.

Os destroços, apesar de desmantelados, ainda guardam parte de sua identidade. É possível ver a popa, partes do casco e cabeços de amarração. Um dos grandes atrativos é a caldeira, que pode ser atravessada por mergulhadores em apneia. No entanto, embora seja possível atravessar a caldeira, não é recomendado para quem não tem experiência por ser um local que exige certo cuidado.

Tuca destaca que em Salvador, cerca de 80% dos naufrágios são naturais, como o Maraldi, que foi consumido pela força das correntezas. “O processo de afundamento de um navio é longo, seja ele natural ou artificial. No caso de naufrágios artificiais, a preparação é ainda mais complexa. O último que tivemos levou cinco anos para de fato acontecer. Antes de tudo, é preciso limpar a embarcação, garantir que não haja resíduos prejudiciais ao ambiente e preparar a estrutura para que, depois de submersa, ela se transforme em um recife artificial que beneficie a vida marinha”, explica ele, reforçando a importância de transformar naufrágios em um atrativo sustentável.

Além da acessibilidade, o Maraldi se destaca pela biodiversidade que se formou ao seu redor. Diversos organismos marinhos habitam a área, tornando o local atraente para fotógrafos submarinos e pesquisadores que buscam entender o impacto dos naufrágios na vida marinha. 

O mergulho no Maraldi deve ser planejado cuidadosamente. O ideal é mergulhar durante a maré de enchente, em períodos de lua crescente ou minguante, quando a correnteza é mais calma e a visibilidade da água melhora. Essas condições proporcionam uma experiência segura e agradável, permitindo que os mergulhadores apreciem a beleza e a história escondida nas águas da Barra.

Com sua fácil acessibilidade, riqueza biológica e conexão com a história marítima de Salvador, o naufrágio do Maraldi oferece uma oportunidade única para mergulhadores de todos os níveis explorarem um pedaço submerso da história.

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