A Baía de Todos-os-Santos já sofre os efeitos do aquecimento global. O aumento da temperatura da água e a redução de chuvas impactam a biodiversidade e os ecossistemas marinhos da região, colocando em risco a rica fauna e flora local. As informações são do jornal A Tarde.
De acordo com o professor Guilherme Lessa, do Departamento de Oceanografia da UFBA, projetos de monitoramento desde a década de 1960 indicam um aquecimento contínuo das águas. “Identificamos uma queda constante na pluviosidade regional, o que reduz tanto a entrada de água doce dos rios quanto a precipitação direta sobre a baía”, afirmou Lessa. A redução das chuvas resulta em águas mais quentes, prejudicando o ecossistema marinho e diminuindo a entrada de nutrientes essenciais.
A escassez de água doce afeta o fitoplâncton, base da cadeia alimentar marinha. Lessa explica que “menos nutriente, menos produtividade primária; menos produtividade primária, menos peixe”, gerando um desequilíbrio no ecossistema. Além disso, a falta de renovação das águas da baía, causada pela diminuição do fluxo dos rios, compromete a dinâmica de salinidade, exacerbando o impacto.
Entre 2020 e 2023, a Baía de Todos-os-Santos teve um alívio temporário devido ao fenômeno La Niña, mas em 2024, o aquecimento voltou com intensidade. “Tivemos um aquecimento excepcional das águas, sem precedentes na série histórica”, destacou Lessa.
O aumento da temperatura também causa o branqueamento dos corais, como explicou José Roberto Caldas Pinto, o Zé Pescador, CEO da startup Carbono 14. “Quando os corais adoecem e morrem, a gente perde um ambiente rico, que atrai peixes, crustáceos e moluscos”, alertou. Em 2024, a baía enfrentou um evento de branqueamento significativo, embora menos severo do que em estados vizinhos.
A Carbono 14 desenvolveu uma técnica inovadora para restaurar os corais, usando fragmentos de corais danificados fixados em estruturas feitas de um coral invasor. O projeto já foi reconhecido internacionalmente e está sendo implementado em berçários subaquáticos na Ilha de Maré e Itaparica.
No entanto, Zé Pescador destaca que a recuperação depende de ações coletivas. “Não adianta só recuperar coral. A gente precisa conscientizar as pessoas, envolver pescadores, quilombolas e jovens dessas regiões na proteção do meio ambiente”, afirmou. Ele também enfatiza a importância da reciclagem e do descarte correto de resíduos para reduzir os danos à biodiversidade.
O doutor José Rodrigues, especialista em Geologia Marinha, reforça que, além de iniciativas como a recuperação de recifes, investimentos em saneamento e políticas públicas são essenciais para aumentar a resiliência dos ecossistemas. A pesca predatória e a introdução de espécies invasoras também são grandes ameaças. “A longo prazo, a combinação de fatores como aquecimento global, poluição e práticas insustentáveis pode comprometer a resiliência dos ecossistemas da Baía de Todos-os-Santos”, conclui Rodrigues.
Foto: Zé Pescador, CEO da Carbono 14