No dia 30 de agosto de 1908, o vapor Cap Frio, imponente navio da Hamburg South America Line, partiu em sua última viagem, com destino a Hamburgo e Bolonha. Carregado com 80 mil sacas de café, cacau e tabaco, além de passageiros e correspondências, ele cruzou as águas de Salvador, em direção ao seu destino final. No entanto, essa travessia ficaria marcada por um trágico naufrágio que até hoje desperta curiosidade.
O Cap Frio foi construído na Alemanha, no estaleiro Reiherstieg Schiffswerft & Maschinen Fab, e lançado ao mar em 1899. Com impressionantes 5.732 toneladas, 125 metros de comprimento e equipado com tecnologia avançada para a época, o navio simbolizava o progresso e a capacidade de navegação de longas distâncias. A bordo, havia espaço para 80 passageiros na 1ª classe e até 500 na 3ª classe, além de uma tripulação que somava 87 homens. Porém, nem sua grandiosidade evitou o destino trágico que o aguardava nas águas da Baía de Todos-os-Santos.
Naquele dia, após uma complicada manobra de entrada no porto de Salvador, que já revelava dificuldades, o Cap Frio ancorou brevemente para desembarcar cinco passageiros. Sua carga estava praticamente no limite máximo, o que incluía 185 toneladas de água, 1500 toneladas de carvão e uma guarnição de mantimentos. Embora não tenha recebido nova carga durante sua breve parada, o navio logo partiu em direção à Europa, com sua estrutura pesada navegando próximo ao limite de segurança. Poucas horas depois, o desastre aconteceu.
Próximo ao Farol da Barra, o Cap Frio encontrou seu fim. As razões exatas que levaram ao naufrágio ainda são debatidas, mas muitos acreditam que as condições de sobrecarga e possíveis erros de navegação contribuíram para o acidente. O navio afundou a apenas 470 metros da praia, em uma profundidade que varia entre 13 e 18 metros, deixando para trás destroços que hoje compõem um dos mais fascinantes sítios de mergulho da região.
Os restos do Cap Frio, embora desmantelados pelo tempo e pelas condições do mar, continuam visíveis para mergulhadores experientes. A proa do navio ainda exibe partes da estrutura de aço e elementos como o mastro de vante, escadarias e guinchos. Na área central, cinco enormes caldeiras e uma âncora permanecem como testemunhas silenciosas de uma tragédia que, embora esquecida por muitos, segue viva para aqueles que exploram os mistérios submersos.
Hoje, o sítio do naufrágio do Cap Frio é amplamente visitado por mergulhadores, atraídos tanto pela beleza dos destroços quanto pela rica fauna marinha que se instalou ao redor. A proximidade do Farol da Barra e de outros naufrágios históricos torna a área um verdadeiro tesouro subaquático, ideal para quem busca aventura e história. No entanto, a exposição do local a correntes marinhas e a falta de um plano de preservação eficaz ameaçam a integridade dos restos do navio, que já sofre com os efeitos do tempo.
Apesar dos desafios, o Cap Frio permanece uma importante peça do patrimônio cultural submerso da Bahia, com potencial de atrair ainda mais mergulhadores e turistas interessados na história marítima. A tragédia que um dia chocou a cidade de Salvador, agora se transformou em uma atração, e quem mergulha em suas águas tem a chance de reviver um capítulo único da história, onde o mar encontrou o destino de um gigante dos mares.