Os ecossistemas costeiros são um dos habitats marinhos mais produtivos do planeta. A costa brasileira possui aproximadamente 8.500 km de extensão e abriga uma grande biodiversidade, com importância ecológica e econômica. Por outro lado, pela proximidade dos principais centros urbanos, são também um dos ecossistemas que mais sofrem interferências das atividades humanas. As praias urbanas são ambientes que sofrem diversos tipos de impactos negativos, sobretudo com resíduos sólidos.
O Instituto RedeMar Brasil realizou diagnóstico gravimétrico em três praias urbanas da cidade de Salvador: Amaralina, Cantagalo e Jaguaribe. Foram realizadas análises quali-quantitativas dos resíduos, além da aplicação de questionários para avaliar a percepção ambiental dos frequentadores e trabalhadores que desenvolvem atividades econômicas nas praias. Como foi possível verificar, os itens derivados de plástico compõem a maior parcela e volume dentre todas as categorias, sendo um indicativo muito claro do efeito negativo da produção demasiada deste tipo de resíduo.
Foram recolhidos 7.373 itens classificados em 26 categorias de resíduos sólidos. Em Jaguaribe, foi coletado o maior peso (286 kg) e também a maior quantidade de itens (3.162), assim como também maior número de categorias de resíduos (26), em uma extensão de aproximadamente 13.815 m2 de faixa de areia. Embora a densidade dos resíduos tenha sido de 0,02 kg/m2, esta praia foi aquela com maior grau de vulnerabilidade ambiental, tendo em vista o número de interferências identificadas no mapa de impactos e também pelo elevado volume de resíduos sólidos coletados.
A Praia de Amaralina foi aquela com o menor volume de resíduos sólidos recolhidos (180 kg, 1897 itens de 26 diferentes categorias), em uma área de 6.691 m2, perfazendo uma densidade de 0,02 kg/m2. Recentemente reformada, a praia possui escadas de acesso e vagas para veículos, porém a área de estudo não apresentava atividade de barracas na faixa de areia, tornando-a assim uma praia mais reservada.
Já na Praia de Cantagalo, foram encontrados um total de 256 kg (2.314 itens), classificados em 22 diferentes categorias, em uma área de aproximadamente 7.153 m2.
Para análise da percepção ambiental dos usuários, foram aplicados 39 questionários destinados aos trabalhadores e visitantes das praias. Os resultados revelaram que, embora haja alguma percepção, mesmo que intuitiva, sobre os impactos negativos causados pelo lixo, os usuários ainda não se reconhecem como agentes causadores deste problema. “Nossa principal missão é fomentar uma mudança de mentalidade coletiva a respeito do uso dos recursos costeiros, entendendo as responsabilidades de cada setor que compõe a economia costeira e tentar convergi-los de modo que consigam exercer suas atividades de forma socialmente justa e ambientalmente responsável, causando a menor interferência possível para a biodiversidade costeira”,conclui William Freitas, presidente do Instituto.